Ateliê Literário | Edição 38 - Novembro/2023

A Hora e a Vez de Mulheres Negras na Sociedade

Ilustração: Fernando Siniscalchi

Sônia Regina da Silva

Veja abaixo a produção literária da participante Sônia Regina da Silva, a partir da oficina “Narrativas de mulheres negras à margem da democracia brasileira”, proposta pela professora e pesquisadora Elaine Correia de Oliveira, ministrada em setembro na Biblioteca de São Paulo, no âmbito do projeto Literatura Brasileira no XX. O encontro  propôs a análise de textos de escritoras negras brasileiras como ponto de partida para entender o lugar de fala dessas mulheres na literatura e ampliar o olhar para as indagações das escritas selecionas.

Boa leitura!


Vozes silenciadas do meio social,

imagens quase apagadas entre a multidão branca,

que simula a aceitação da identidade negra,

quanta hipocrisia de atitudes camufladas de solidarização

com o negro oprimido.

 

Que sociedade é essa que se auto-intitula democrática com

a suposta existência de uma política “racista”?

Pois a realidade expressa a presença de um mundo

contemporâneo ainda escravocrata, em que as mulheres negras

estão às margens da sociedade movida pelo racismo.

 

Infelizmente, há um impacto brutal do preconceito racial

muito arraigado nas vivências dessas “Marias” de Conceição Evaristo

e das tantas outras “Carolinas” Maria de Jesus.

É perceptível o racismo!

Que recai, principalmente, sobre a aparência dessas mulheres

que lutam por igualdades sociais.

 

São elas vistas pela sociedade como:

 

Mulheres sem encéfalo, que não pensam,

Mulheres prontas à subserviência,

Mulheres que recebem tratamentos desumanizados,

Mulheres bem-vindas à vassoura,

Mulheres oprimidas por conta da cor da pele,

Mulheres ridicularizadas pelo cabelo “afro”,

Mulheres marginalizadas na sociedade ao ocuparem cargos 

de trabalhos inferiores,

Mulheres submetidas a lugares específicos, como o quarto

da empregada e a cozinha do serviçal, o “habitat” destinado ao negro.

 

São mulheres, enfim, que vivenciam, em pleno século XXI,

situações análogas à escravidão.

Então, reflitamos...

Qual é o lugar dessas mulheres nessa sociedade hipócrita?

Difícil saber! Mas, talvez, até haja um digno lugar,

desde que elas se insurjam tais como:

 

Somos Atlânticas, sem nenhum problema,

Somos parte da transmigração de uma cultura africana para a América,

Somos periféricas... e daí?!

Somos a potência negra, o “Exu” das estradas, da vida, da luta...

A força que move o mundo, em que a cor da nossa pele e o “afro” de

nossos cabelos não mais nos impedirão de atuarmos na sociedade

como seres humanos normais e dignos de respeito.

 

Eis, agora, a Hora e a Vez dessas Mulheres Negras contrastarem as estatísticas

que evidenciam os seus silenciamentos no mundo.

Irem em busca dos seus “eus”,

validados pela coragem de se posicionarem diante da sociedade,

desde sempre nutrida de preconceitos, por meio de suas vozes e escritas ativas,

que não fogem da luta ao combate do racismo.


Logo, esse é o momento de fazerem agir

as “Carolinas” Maria de Jesus e as “Marias” de Conceição Evaristo.