Notas de Trilha

Ilustração: Fernando Siniscalchi

Sônia Regina Silva

* Texto produzido a partir da oficina “Literatura com som na caixa: trilhas sulinas brasileiras”, ministrada pela professora e escritora, Deise Abreu Pacheco, na Biblioteca Parque Villa-Lobos, em outubro de 2024.  

Primeiro movimento

 

São 8h da manhã quando saio de casa para minhas habituais caminhadas pelo parque Novo Ser, a uma distância de 5 minutos. Durante esse intervalo, sinto um sopro suave do vento roçar minhas madeixas e um leve toque em minha face, adentrando minha alma e ressoando no coração. O vento ecoa em meus ouvidos em forma de notas musicais. A paisagem natural me observa sob um céu limpo, com o sol nascendo e aquecendo tudo ao meu redor. Ao passar pelo portão principal, sinto à rua do vir a ser, percebo algo à minha espera, causando-me calafrios à medida que o calor do dia vai aumentando.

Cada detalhe a me circundar transforma-se em uma melodia, na qual o som se converte em uma sensação. A natureza revela suas verdadeiras cores, trazendo à tona sentimentos escondidos, memórias esquecidas e cada passo dado permanece próximo de um entendimento mais profundo do meu eu interior.

 

Segundo movimento

 

Querida Olive,

Entre as linhas não ditas, guardo um segredo: há uma cena no filme A Pequena Miss Sunshine que sempre me causa vergonha. Durante o concurso de talentos, a sua performance ao som de Super Freak na dança sempre me deixa constrangida. Nos pequenos silêncios, a insegurança se esconde, e nas notas baixas, meu desconforto encontra refúgio. É como se, nas pausas, meu coração pulsasse em ritmo tímido, encolhido na introspecção. Cada movimento seu no palco, dançando fora de ritmo, reforça esse sentimento de desconforto, quase invisível, que adentra nos espaços onde a música se torna mais delicada. É um segredo que guardo para mim, e um dia quem sabe, poderei compartilhar com você sem temor.

Com carinho,

Sônia Silva

 

Terceiro movimento

 

Na encruzilhada de paisagens abstratas, como encontrar sentido no desespero profundo?

 

Quarto movimento

 

Busque sentido no desespero profundo, em nossas batalhas internas intensas. Em meio às paisagens abstratas do caos do mundo, abrace a introspecção e o autoconhecimento.