Ateliê Literário | Edição 48 - Setembro/2024
O bom filho à casa torna
Francilene Monteiro da Silva
* Texto produzido a partir da oficina “Dois ou três aspectos da prosa sertaneja”, ministrada pelo professor Cleber Vinicius do Amaral Felipe, na Biblioteca de São Paulo, em julho de 2024.
Passaram-se
cinco anos desde que Cordulina e Chico Bento estavam morando em São Paulo.
Tinham uma casa modesta, mas não lhes faltava o que comer.
Um
dia, quando Cordulina esperava o marido voltar do trabalho, começava a imaginar
como seria sua vida se um de seus filhos não tivesse desaparecido. Sempre muito
aflita desde o trágico e traumático acontecimento que a fez perder seus dois
filhos, um para a morte e o outro para o mundo, quando Pedro sumiu e nunca mais
voltou. Era só o marido demorar a voltar para casa que a mulher já pensava que
o pior havia acontecido.
De
longe, aliviada, avistou Chico Bento, que voltava do trabalho. Ele trazia uma
sacola de compras e, muito alegre, erguia o braço mostrando um papel na mão.
Era uma carta do compadre Luís Bezerra.
–
O que diz a carta, homi? Indagou Cordulina curiosa.
–
Aqui diz que Duquinha já tá na escola, um dia esse menino ainda vai ser doutô,
e a melhor notícia é que o compadre disse que encontrou nosso Pedro! – Falou
Chico Bento, já em lágrimas.
A
mulher ficou tão alegre que quase desmaiou e, aos prantos, ajoelhou-se e ergueu
as mãos para o céu em sinal de agradecimento:
–
Obrigada Deus e Nossa Senhora! Eu sabia que vocês nunca ia nos abandoná!
Chico
Bento, já não aguentando de tanta alegria, gritou:
–
Vamos voltar pra Quixadá pra ver nosso filho. Se arruma, muié, que nóis vai é
hoje mesmo!
E
assim, o casal seguiu rumo a sua terra natal para encontrar, naquelas terras
áridas, um dos pedaços que lhes faltavam: o menino Pedro.