Ateliê Literário | Edição 41 - Fevereiro/2024
O causo do capeta à meia-noite
Sônia Regina Silva
Sônia Regina Silva atravessa o universo caipira para contar este causo, produzido a partir da oficina "Dois Dedos de Prosa: o Caipira e a Literatura Brasileira," ministrada pelo professor Fábio Martinelli Casemiro, na Biblioteca Parque Villa-Lobos, em dezembro de 2023,
Confira!
Bem, agora vou contar pra “ocês” o que ouvi ao chegar aqui. Pelo que reza a lenda, conta-se que, às 23 horas, quando a lua está bem gigante e branca de tudo, o capeta sai da toca. Ouve-se um forte tropel nas ruazinhas de barro, seguido de uma poeira vasta de terra a cegar quem queira olhar. Veem-se vultos negros de arrepiar a espinha dorsal e paralisar as pernas dos caipiras. Em seguida, em meio a isso tudo, aparecem dois olhos de fogo que devoram tanto as vísceras como as bocas das vítimas, por uma bola de fogo a inutilizar a fala e a visão dessas pessoas.
E é nesse momento, quando a bola de fogo cega e silencia essas vítimas, que o capiroto faz sua aparição. Ele surge das sombras, alto e imponente, com um sorriso cruel que ilumina a noite escura. Mas, apesar do medo que provoca, nunca machuca ninguém. Dizem que ele só quer lembrar aos moradores que, mesmo nas noites mais tranquilas, existem mistérios que não podem ser explicados. E assim, quando o relógio bate meia-noite, o capeta desaparece, deixando para trás apenas o eco do seu riso e a lembrança de uma noite que ninguém jamais esquecerá.