Ateliê Literário | Edição 50 - Novembro/2024
Vozes de Resistência no Brasil Criolo
Sônia Regina Silva
* Texto produzido a partir da oficina “O povo brasileiro no Brasil Criolo - um diálogo entre crítica e o fazer literário”, ministrada pelos professores, pesquisadores e escritores, Nelson Flávio Moraes e Patricia Anunciada, na Biblioteca de São Paulo, em setembro de 2024.
A voz de
Luíza Mahín, altiva e forte,
Resistiu,
recusou-se a ser calada.
Nos becos da
favela, ecoa sua luta,
Em cada
esquina, a história é contada.
A voz de
Luiz Gama desafiou a escravidão,
Com ironia e
dor, libertou corpos e mentes,
No Quarto de
Despejo, de Carolina de Jesus, a verdade é revelada,
Semeando
justiça e amor, em palavras ardentes.
A voz de
Conceição Evaristo recolhe histórias de desamparo e luta,
Transforma
dor em poesia, resistência em escritas absolutas,
Escrevivências
em atos de insubordinação de mulheres negras,
Silenciadas
e marginalizadas na sociedade.
No
Pretuguês, a língua se reinventa, não há lugar para o certo ou errado,
E a cultura
negra se afirma, potente e astuta.
A voz de
Elza Soares, mulher do fim do mundo,
Canta a dor
e a força, em versos profundos.
Sua música é
grito, é luta, é resistência,
Ecoando nas
favelas, afirmando a existência.
Em Carolina
de Jesus, a voz de Bitita, na infância sofrida,
Relata a
pobreza, a luta pela vida.
No campo e
na cidade, a resistência é constante,
Sua escrita
é memória, é força incessante.
No Brasil
Criolo, os cabelos afro ou Black Power são um emblema de resistência, não de
crime,
Como disse
Cristiane Sobral, este pente especial molda minha identidade.
Desafiando a
sociedade que insiste em estigmatizar,
Porque, como
ela afirmou, Só por hoje vou deixar meu cabelo em paz.
Meu cabelo é
um símbolo de poder, resistência e luta,
Uma coroa
que carrego com orgulho e dignidade, não uma labuta.
Com um olhar
3D e óculos escuros, vejo além do preconceito,
Proteção
contra os olhares julgadores,
Como
Cristiane Sobral, celebro a beleza do meu jeito.
A textura
dos meus fios é história e cultura, um adinkra em cada mecha,
Como o
Duafe, símbolo de força e feminilidade, que a alma seque e enlaça.
A sociedade
pode ver estigma, mas eu vejo beleza e valor,
Pois cada
cachinho é uma resistência, um símbolo de meu clamor.
Assim como
em BlueMan (Filme oficial), onde o negro é observado,
Levanta-se
contra estereótipos, em que a dignidade é proclamada.
Neste
emaranhado de fios, encontra-se a verdadeira identidade,
Um grito de
resistência, uma afirmação da humanidade.
Em Sueli
Carneiro, as vozes negras devem ecoar simultaneamente,
Contra a
pobreza, o racismo, a discriminação e a classe opressora da pele negra,
Como em
Lélia Gonzalez que consagra Meu corpo me pertence,
Não pode ser
apenas um corpo silenciado a circular sem representatividade social.
Deve ser uma
luta diária contra a política do corpo.
Na voz de
Nilma Lino Gomes, o corpo e o cabelo simbolizam a
identidade
negra,
Como em Darcy Ribeiro, o conceito de Brasil Criolo é um reconhecimento da mestiçagem e do sincretismo cultural, pilares da identidade brasileira. A resistência e o empoderamento devem prevalecer de maneira contínua, contra a marginalização do povo Criolo.
Hoje, essas
vozes ecoam em nós,
Em cada
passo, em cada gesto,
Desconstruindo
o racismo, afirmando a vida,
Em um coro
de resistência, forte e manifesto,
Como em
Cuti, a violência do negro é emancipatória,
Exigindo ser
uma pessoa humanizada.