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Darcy Ribeiro no Literatura Brasileira no XXI: a atualidade, potência e o legado desse intérprete do Brasil

Quadro 'Operários', de Tarsila do Amaral foi pintado em 1933 com técnica de óleo sobre tela — Foto: Reprodução/ Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de SP

O projeto Literatura Brasileira no XXI - fruto de uma parceria entre a SP Leituras e Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, dedica o ano de 2024 à potência das reflexões de Darcy Ribeiro a partir da obra “O povo brasileiro”. O ciclo “Literatura dos Brasis: o povo brasileiro” é uma oportunidade para revisitar o legado desse intérprete do Brasil.

Em "O Povo Brasileiro", o antropólogo Darcy Ribeiro nos conduz pelos caminhos da nossa formação como povo e nação. Afinal, quem são os brasileiros? Que matrizes nos alimentaram? Que traços nos distinguem?


Obra magistral de Darcy Ribeiro, um dos maiores antropólogos brasileiros, a obra é uma tentativa de compreender quem somos, o que somos e a importância do nosso país. Este clássico retrata o inconformismo pela desigualdade social e percorre a história da formação da civilização brasileira.

Darcy Ribeiro: visionário que lutou por indígenas e pela educação


Foto: Darcy Ribeiro entre indígenas Urubu-Ka’apor, sem data — Crédito: Fundação Darcy Ribeiro.

Reconhecido como homem que aliava pensamento a ação, Darcy se destacou na defesa dos povos indígenas, na militância a favor da educação pública de período integral de qualidade, criou universidades inovadoras, como a Universidade de Brasília, além de atuar em várias frentes políticas. 


Retrato de Darcy Ribeiro, 1995. Foto: Bob Wolfenson

Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922. Em 1939, mudou-se para Belo Horizonte e ingressou na Faculdade de Medicina. Adiante, em 1942, abandonou o curso de Medicina e se mudou para São Paulo, onde passou a cursar Ciências Sociais na USP. O intelectual se formou em Antropologia pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo em 1946. 

No ano seguinte, iniciou seu trabalho como etnólogo no Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Sua colaboração na instituição seguiu até 1956, atuando junto ao Marechal Rondon com indígenas do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Foi nesse intervalo que começou a planejar o Museu do Índio, inaugurado em 1953. O museu, localizado no Rio de Janeiro, é reconhecido pela Unesco como o primeiro no mundo a difundir a cultura indígena de forma a combater o preconceito.  Entre 1955 e 1956, o pioneiro Darcy Ribeiro atuou como professor de etnologia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Na sequência, em 1957, foi nomeado por Anísio Teixeira diretor da Divisão de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, órgão do Inep. O trabalho do antropólogo no âmbito das instituições públicas continuaria até o fim de sua vida.

Ainda em 1959, Darcy foi encarregado pelo presidente Juscelino Kubitschek de planejar a Universidade de Brasília, onde exerceu a função de primeiro Reitor em 1961.  Passou então, em 1962, ao cargo de Ministro da Educação do Gabinete parlamentarista presidido por Hermes Lima na gestão do Presidente João Goulart; e, em 1963, foi nomeado Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República de Jango.

Após o golpe militar, no ano seguinte, Darcy Ribeiro se exilou no Uruguai e teve os direitos políticos cassados pelo AI-1. Seus gestos de contribuição social e institucional, nesse momento, se estenderam a outros países da América Latina. No Uruguai, atuou como professor da Universidad de la Republica e participou da reforma e da fundação de universidades locais.  Após ter sido absolvido pelo STF das condenações militares que pesavam sobre ele, em 1968, Darcy regressou ao Brasil, porém acabou sendo preso e indiciado em processo por infração à Lei de Segurança Nacional após a edição do AI-5 em 13 de dezembro. Desse modo, partiu novamente para o exílio em 1969. Foi convidado pelo presidente Salvador Allende para assessorá-lo, em 1971, e atuou como professor da Universidad de Chile.

Mudou-se para o Peru em 1972, onde trabalhou de assistente do presidente Juan Velasco Alvarado na organização do Centro de Participação Social, patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Também elaborou estudos para universidades do México e da Costa Rica.  O reconhecimento mundial da contribuição de Darcy Ribeiro é contínuo, permanente. Em 1978, foi laureado doutor honoris causa na Sorbonne, França. Posteriormente, já em 1979, foi anistiado, retornou ao Brasil e tornou-se professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Foto: Darcy Ribeiro com indígenas do povo Kadiwéu, em 1947. Acervo do Museu do Índio / FUNAI Brasil.

No contexto da redemocratização, elegeu-se vice-governador do Estado do Rio de Janeiro na chapa de Leonel Brizola (PDT). Entre 1983 e 1986, como vice-governador, respondeu pela Secretaria de Ciência e Cultura e coordena o Projeto Especial de Educação, responsável pelo programa das escolas de horário integral – os Cieps. Além disso, inaugurou em sua gestão o Sambódromo. 

Mais tarde, em 1990, Darcy Ribeiro se elegeu Senador pelo PDT do Rio de Janeiro. No entanto, licenciou-se em 1991 para assumir a Secretaria Extraordinária de Programas Especiais do Estado do Rio de Janeiro, no governo Leonel Brizola. Durante essa década, deu prosseguimento aos seus feitos intelectuais e políticos em diversas ações, como a fundação da Universidade Estadual do Norte Fluminense (1994), a relatoria do Projeto da Lei de Diretrizes Bases da Educação (1995) e a idealização da Universidade Aberta do Brasil e da Escola Normal Superior (1996).  Ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1992, autor de diversas publicações como Uirá sai à procura de Deus (1957), obra de ficção baseada na vida indígena, La universidad necessaria (1967), Configurações histórico-culturais dos povos americanos (1962), UnB: invenção e descaminho (1978), Nossa escola é uma calamidade (1984) e O povo brasileiro (1995). 

Darcy morreu em Brasília no dia 17 de fevereiro de 1997. Seu corpo foi sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro. (Fonte: site Sesc 24 de Maio/Exposição Utopia brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos/curadoria de Isa Grinspum Ferraz -2023. 


Exposição Utopia brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos


Saiba mais

Documentário: O Povo Brasileiro 10 Episódios | Duração média dos eps. 30 min.

A série é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro em linguagem televisiva. Os programas, de 26 minutos cada discutem a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro, depoimentos de Antonio Candido, Luis Melodia e Antonio Risério, entre outros, e a participação especial de Chico Buarque e Tom Zé, os dez programas da série discutem nossas origens, nossos percursos históricos, nossos temas e problemas, nossas perspectivas de futuro. Em 1995, lendo os primeiros capítulos dos originais de "O Povo Brasileiro", Isa Grinspum Ferraz sugeriu a Darcy Ribeiro (1922-1997), com quem colaborou por 13 anos, que contasse aquela história para mais gente, em programas de televisão. Apesar de já muito doente, Darcy aceitou a provocação e, por quatro dias, tornou-se ator de um grande depoimento sobre a formação cultural dO Povo Brasileiro.

A Fundação Darcy Ribeiro

A Fundação Darcy Ribeiro é uma instituição dedicada à pesquisa e o desenvolvimento de projetos educacionais, culturais, sociais e científicos. Tem sede própria na cidade do Rio de Janeiro, e mantém representação em Brasília, no Memorial Darcy Ribeiro, localizado no campus da UnB – Universidade de Brasília, onde abriga o acervo documental e as bibliotecas dos antropólogos Darcy e Berta Ribeiro.

O Memorial Darcy Ribeiro


Inaugurado em 6 de dezembro de 2010 e localizado no campus da Universidade de Brasília, tem o formato de uma maloca indígena, é um exemplo da troca viva de informações entre arquitetura e antropologia. Lá estão depositados os arquivos pessoais de Darcy e Berta Ribeiro e suas respectivas bibliotecas, legado das atividades profissionais e políticas desses 2 intelectuais que deixaram um valioso patrimônio para a cultura brasileira e latino-americana. Carinhosamente conhecido como Beijódromo, Darcy Ribeiro concebeu o Memorial como um espaço de memória, de produção de conhecimento e de conexão entre culturas e pessoas.

A revista Darcy

A revista Darcy é uma publicação de jornalismo científico e cultural da Universidade de Brasília, produzida pela Secretaria de Comunicação desde 2009. Pensada para ser uma vitrine da produção científica da UnB, suas reportagens divulgam, em linguagem acessível, as atividades de pesquisa e extensão da Universidade. A Darcy contribui para democratizar o acesso ao conhecimento produzido nas diversas áreas do saber e fomenta a reflexão sobre temas contemporâneos de interesse público.