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'Um defeito de cor': conheça livro homenageado em samba-enredo da Portela
A Portela, uma das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro, conhecida por frequentemente abordar temas sociais e culturais relevantes, entrou na avenida no Carnaval de 2024 com o samba-enredo baseado no livro homônimo "Um defeito de cor", de Ana Maria Gonçalves - um romance histórico de 952 páginas, que, nos últimos anos, se tornou leitura fundamental para entender a história do Brasil e do racismo que perdura até hoje no país. A obra está indo para sua 30ª edição.
Do que se trata o livro Um Defeito de Cor?
Capa
do livro 'Um defeito de cor', de Ana Maria Gonçalves — Foto: Reprodução/Editora
Record
Pautado
em intensa pesquisa documental, a obra narra oito décadas da formação da
sociedade brasileira, a partir da história de Kehinde, ou sequestrada,
escravizada e trazida para o Brasil, onde foi batizada como Luísa.
A
protagonista é inspirada em Luísa Mahin, que teria participado da célebre
Revolta dos Malês, liderada por escravizados muçulmanos a favor da abolição.
Ela seria mãe do advogado, abolicionista, orador, jornalista, escritor e o
patrono da abolição da escravidão do Brasil, Luís Gama, vendido como escravo
pelo próprio pai quando criança.
A
obra é a história da luta preta no Brasil incorporada em uma mulher que
enfrentou os maiores desafios imagináveis pra continuar viva e preservar suas
heranças e raízes", explicou a autora do livro Ana Maria Gonçalves em
entrevista ao g1.
O que significa 'Um Defeito de Cor'
No
Brasil colonial, era comum que pessoas negras que pleiteassem cargos
sacerdotais tivessem de pedir formalmente a despensa do chamado 'defectu
coloris', o "defeito de cor". Como advogado abolicionista, Luiz Gama
se revoltou contra essa prática: “Em nós, até a cor é um defeito", disse.
"Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime."
Quem foi Luisa Mahin
“Mulher de Turbante”, registro do fotógrafo Alberto Henschel,
de 1870: uma das várias imagens utilizadas para personificar a heroína Luísa
Mahin. (Fonte: Brasiliana Fotográfica)
De
acordo com a Fundação Cultural Palmares, Luisa Mahin foi trazida ao Brasil da
Costa da Mina e escravizada no século XIX. Ela teria se envolvido na Revolta
dos Malês, a maior revolta de pessoas escravizadas que ocorreu no Brasil, em
1835.
Há
poucos registros históricos sobre a mulher e sua atuação nas revoltas, a não
ser por uma carta autobiográfica escrita por Luiz Gama em 1880. Sua figura, no
entanto, virou símbolo de resistência das mulheres negras no Brasil, assim como
citam os versos da Portela: 'Tal a história de Mahin. Liberdade se rebela'.
O samba-enredo
No desfile da Portela, Gama foi representado por Lazaro Ramos, Paulo Vieira, o ministro Silvio de Almeida, mestre Nilo Sérgio e Thiago Caetano. Na Sapucaí, a história do enredo se desenvolveu por meio de uma carta sonhada pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, na qual Luís Gama se dirige a sua mãe.
Veja aqui a letra do samba, que evoca a ancestralidade e a importância da memória histórica, celebrando figuras emblemáticas da resistência negra no Brasil.