Edição 21 - Junho/2022 | Editorial

Arquitetura literária

Foto: Reprodução

O projeto Literatura Brasileira no XXI fala, este mês, sobre as relações entre literatura e arquitetura modernistas. A Semana de Arte Moderna de 1922 não apresentou obras ou projetos arquitetônicos. Mas as conexões aconteceram por diversas vias. O apreço de alguns modernistas pelo casario de Ouro Preto, cidade que inspirou páginas, quadros e até guias poéticos. Escritores, como Manuel Bandeira, que estudaram arquitetura. Arquitetos como Oscar Niemayer que foram leitores confessos de modernistas. 

Na oficina “Moderno por Acaso? Literatura e Arquitetura”, Humberto Pio mostrou como as ideias modernistas, desde sua gestação a partir de 1917, nasceram num espaço de arquitetura definida: a cidade de São Paulo. Anita Malfatti expôs seus quadros no número 11 da Rua Libero Badaró. Mario de Andrade figurou logradouros existentes pela Pauliceia Desvairada. Ou seja, os atores e mesmo a arte modernista literalmente circulavam pela metrópole que se reinventava.

Humberto, além disso, é arquiteto de formação e poeta por decisão. Vem estudando e produzindo projetos arquitetônicos. Tem criado seus livros e arquitetado edições de outros escritores. Nesse sentido, trouxe para atividade essa conexão prática, literatura-arquitetura, tão comentada, metaforicamente, em nomes como João Cabral de Melo Neto e Joaquim Cardozo. 

Assim, as produções da oficina sugerem espaços, dos mais privados, guardados por fechaduras, até os mais coletivos, como brincadeiras de rua, bairros e estabelecimentos comerciais. Por tais espaços – demolidos, preservados ou reformulados – caminhamos mais que um corpo, vamos arquitetando histórias e sentimentos do que somos. 

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