Edição 45 - Junho/2024 | Editorial

Canto que venta do Sul

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Para Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro, 1995), a Brasil Sulino é a área mais heterogênea do país, estendendo-se pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tal diversidade contrasta com a menor extensão desse território, se comparado ao Brasil Caboclo, e ocorre em apenas três unidades da federação, poucas em relação ao Brasil Sertanejo, por exemplo.

Para ali afluiriam três grandes formações étnico-culturais, de encontro a povos originários e escravizados africanos: bandeirantes desbravadores daqueles campos; luso-açorianos ocupantes das faixas litorâneas; gringos, notadamente alemães e italianos, que a partir do século XIX vão ocupar as terras centrais ou disputar campos e praias com os habitantes mais antigos.

Matrizes tantas redundaram em cultura plural, não raro surpreendendo quem nasceu noutras paradas. Assim, o professor, compositor e pesquisador Silvio Mansani, com a oficina “Entre canto e fala - música e poesia ao sul do Brasil”, mostrou, por exemplo, a devoção, a poesia e o artesanato açorianos presentes nos artefatos poéticos do pão-por-Deus. Ou o texto da milonga campeira. Ou, ainda, a canção pop e eletroacústica.

O foco foi a poesia cantada, performada e difundida em diversas mídias e eventos de socialização. Tudo tratado com o rigor, em geral, dedicado apenas à literatura dos livros ou à música vocal dita erudita. O resultado criativo disso: áudio-poemas construídos pelas alunas Francilene Monteiro da Silva (Bruxaria) e Sônia Regina Silva (As sombras do fantástico) em parceria com o próprio Silvio. Narrativas tradicionais somadas a novos métodos de processamento vocal. Boa escuta!

 

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