Edição 39 - Dezembro/2023 | Editorial
Em todos os tempos: vozes indígenas
O projeto Literatura Brasileira no XXI fecha o ciclo de oficinas em defesa da democracia. Sabíamos que o tema era relevante, diante do ambiente político tomado por sectarismos. Queríamos contribuir para o debate, exercendo nossa função cultural, educacional e social. E de saída, com os ataques de oito de janeiro aos três poderes da república, tivemos certeza de que a escolha fora, de fato, acertada.
A
compreensão de obras literárias ou não, ou das situações que nos cercam, é um
exercício democrático, porque leva o sujeito a ver para além do seu nariz. A
leitura como mero espelho do ego tende a gerar apenas intolerâncias, mas como
reflexão de subjetividades e diversidades compartilháveis é uma ferramenta de
civilidade.
Assim, como defender a democracia brasileira sem ouvir aqueles que aqui sempre estiveram? Aqueles que há séculos e milênios vivem neste território sem jamais colocar sua fauna e flora à beira do colapso? Já havíamos trabalhado autores e temas relacionados aos povos originários. Mas desta vez, tivemos a fortuna de contar com Fernanda Vieira: indígena, ativistas, professora, pesquisadora e escritora.
Na oficina “Perspectivas Pindorâmicas: literaturas Indígenas (sempre) contemporâneas”, além de revisitar nomes como Pero Vaz de Caminha e Gonçalves Dias, Fernanda percorreu saberes, narrativas e perspectivas indígenas enraizados na literatura de Graça Graúna, Márcia Wayna Kambeba, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara e Ailton Krenak. Que nossa democracia tenha ouvidos para os povos que, em todos os tempos ainda antes das caravelas, cuidaram desta terra.