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O Teatro além do Municipal

O projeto Literatura Brasileira no XXI destaca o dramaturgia modernista que, curiosamente, não constou do programa da Semana de Arte Moderna de 1922, embora ocorrida num Teatro Municipal. A ausência no emblemático evento, no entanto, não fez do gênero algo menos relevante no concerto da artes brasileiras, em plena renovação. É o que demonstrou a oficina “O teatro e os modernistas (1922-1942)”, de Larissa de Oliveira Neves. 

Conhecedora das artes dramáticas no Brasil, das encenadas sobre palcos requintados às performadas em praças ou sob as lonas de circos, Larissa abordou o que seja teatro modernistas segundo o contexto nacional. Desfez-se, assim, dos preconceitos que usam apenas trenas europeias para medir sorrisos e saltos ao sul do equador. A oficina preferiu trabalhar não com um ideal alienígena de modernismo, mas com o concretizado dentro da própria dinâmica das culturas brasileiras. 

Para tanto, trouxe à luz da ribalta Antônio de Alcântara Machado, cuja obra crítica foi determinante para que nomes como Oswald de Andrade (O Rei da Vela, 1933) e Mário de Andrade (Café, 1942) criassem peças únicas, infiltradas de elementos característicos dos festejos populares ou do teatro de revista. Algo que para os esquadros europeus, clássicos ou vanguardistas, talvez soasse, de fato, como um “teatro bagunça”, termo cunhado por Machado. 

E para além dos debates, por si só uma nova janela no horizonte dos participantes, foram todos convidados a experimentar a composição de textos dramáticos. Cada vez mais temos confirmado, dentro deste projeto, que a escrita literária, realizada como gesto didático ou lúdico, amplia enormemente as competências leitoras de alunos e professores. Aproveite, leitor, que a luz já se apaga e as cortinas vão se abrindo! 


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