Edição 47 - Agosto/2024 | Tema
A moda caipira encanta a nova metrópole
Na oficina Relações entre música sertaneja e canção popular
urbana, trabalhamos com o cancioneiro sertanejo,
observando o diálogo das canções com as transformações da cidade de São Paulo,
procurando compreender, a partir do estudo das composições, os processos de
assimilação da cultura caipira na canção popular urbana.
Pensar a cultura caipira, levou-nos inicialmente à primorosa obra O
povo brasileiro, de Darcy Ribeiro, na qual verificamos o princípio da
formação do caipira. O autor remete à figura dos bandeirantes que, ao adentrarem
o interior paulista, relacionaram-se com os povos originários, os jesuítas e os
escravizados.
Levantamos aspectos relevantes da vida seminômade dos tropeiros que
andavam léguas e léguas no lombo de mulas: a atividade cotidiana de carpir o
mato do sertão para depois se instalar em casas de pau a pique, o hábito de
passar os períodos de repouso em redes, o costume de se reunir à noite ao redor
de uma fogueira contando causos e ouvindo os versos de um cantador
acompanhado pelos acordes de uma viola de arame.
Esses aspectos estão na origem do povo caipira, aquele que cortava o
mato, caa (mato) pir (que corta), miscigenado com outros povos do
sertão, particularmente indígenas, formando as novas gerações de caboclos (caa-
boc), homem que tem casa no mato.
Nesse sertão imenso, apresentado por Antonio Candido como Paulistânia,
em Os parceiros do Rio Bonito, destacou-se a atividade dos jesuítas no
processo de catequização dos povos originários. Esse diálogo teve como língua
comum a música, particularmente aquele tocada na viola, instrumento originário
de Portugal. Assim surgiram os ritmos caipiras do cururu – corruptela da
pronúncia de cruz, curuzu –, do cateretê, da catira, todos eles tocados e
difundidos nas festas religiosas de Folia de Reis, do Divino e de São Gonçalo,
o protetor dos violeiros.
O segundo ponto trabalhado na atividade versou sobre a formação
histórica do caipira no final do ciclo do ouro e no início do ciclo do café,
destacando o importante papel das fazendas cafeeiras na consolidação de uma
cultura caipira como centralizadora das atividades econômicas, sociais e
religiosas.
Em relação ao aspecto econômico, particularmente na posse das terras, vimos
a seguinte hierarquia: o homem branco latifundiário é o proprietário; o
caboclo, indígena miscigenado, trabalha nas fazendas e, algumas vezes, possui
pequeno sítio à margem dos latifúndios; na base da pirâmide social, estão os
ex-escravizados. Esses três personagens, ainda que em distintas posições socioeconômicas,
estão submetidos às tradições e hábitos do universo caipira.
A fim de ilustrar essa realidade, fizemos uma análise da moda “O mineiro e o italiano”, de Teddy Vieira e Nelson Gomes, em que se destaca o conflito pela posse de terra entre esses personagens do sertão da Paulistânia.
O mineiro e o italiano
O mineiro e o italiano
viviam às barras dos tribunais,
Numa demanda de terra
que não deixava os dois em paz.
Só em pensar na derrota
o pobre caboclo não dormia mais.
O italiano roncava:
nem que eu gaste alguns capitais,
Quero ver este mineiro
voltar de a pé pra Minas Gerais.
Voltar de a pé pro mineiro
seria feio pro seus parentes.
Apelou pro advogado:
fale pro juiz pra ter dó da gente.
Diga que nós somos pobres
que meus filhinhos vivem doentes,
Um palmo de terra a mais
para o italiano é indiferente.
Se o juiz me ajudar a ganhar
lhe dou uma leitoa de presente.
Retrucou o advogado:
o senhor não sabe o que está falando,
Não caia nessa besteira
Se não nós vamos entrar pro cano.
Este juiz é uma fera
caboclo sério e de tutano,
Paulista da velha guarda,
família de 400 anos.
Mandar a leitoa pra ele
é dar a vitória pro italiano.
Porém chegou o grande dia
que o tribunal deu o veredicto.
Mineiro ganhou a demanda
o advogado achou esquisito.
Mineiro disse ao doutor:
eu fiz conforme lhe havia dito.
Respondeu o advogado
que o juiz vendeu e eu não acredito.
Jogo meu diploma fora
se nesse angu não tiver mosquito.
De fato, falou o mineiro,
nem mesmo eu tô acreditando,
Ver meus filhinhos de a pé
meu coração vivia sangrando.
Peguei uma leitoa gorda,
foi Deus no céu me deu esse plano,
De uma cidade vizinha,
para o juiz eu fui despachando.
Só não mandei no meu nome,
Mandei no nome do italiano
Destaca-se na letra dessa moda de viola a esperteza do caipira como elemento
reorganizador das diferenças sociais entre o pequeno proprietário e o
latifundiário. No aspecto musical, notam-se várias características particulares
da moda de viola, gênero por excelência da cultura caipira. O ponteado na
introdução, o recortado subdividindo as estrofes, o canto em dupla acompanhado
somente pela viola, na gravação de Tião Carreiro e Pardinho, grandes
intérpretes da música caipira.
Após a crise da cultura cafeeira no início do século XX, nossas lentes
se voltaram para a relação entre a cultura caipira e a massiva migração para a
cidade de São Paulo durante seu processo de urbanização.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda defendia a ideia de que, na
década de 1930, o processo de urbanização não era consequência somente do
crescimento da cidade, mas também do desenvolvimento dos meios de comunicação,
que atraíam as áreas rurais para a esfera de influência da cidade. A
metropolização da cidade de São Paulo provocou uma movimentação social geradora
de novas relações que possibilitaram a criação de uma cultura musical sertaneja
urbana. O grande fluxo migratório do interior, a necessidade do mercado
fonográfico de agradar a esse público e ampliar sua audiência, o surgimento de
novos artistas, assim como a vertiginosa transformação da cidade, que inspirava
sentimentos tanto progressistas quanto saudosistas, formaram as condições
ideais para o desenvolvimento de uma música sertaneja.
O tratamento dado ao caipira nessa relação foi marcado por um
estereótipo representado na obra de Monteiro Lobato pelo personagem Jeca Tatu:
o caipira indolente, preguiçoso, doentio, semialfabetizado. Entretanto, não era
essa a imagem que a canção caipira trazia dos migrantes do interior. Os
compositores caipiras estavam muito bem representados nas rádios e gravadoras
e, além disso, os personagens das canções traduziam um caipira esperto, matuto,
nostálgico de sua terra natal.
Destaca-se nesse cenário do início da década de 1930, a figura
emblemática de Cornélio Pires, que em seu audacioso projeto de gravação de
causos e modas, inundou os lares paulistas com a riqueza da cultura oral do
interior. Abertas as porteiras da cidade, a música sertaneja conquistou o seu
justo espaço na grande metrópole. Era a época de ouro da canção popular, quando
a moda de viola gozava de igual prestígio que o samba, a marchinha e as
serestas.
Para representar essa fase, trabalhamos a canção “Bonde Camarão”, de Cornélio Pires, gravada em 1929.
Bonde camarão
Aqui
em São Paulo o que mais me amola
É
esses bonde que nem gaiola
Cheguei,
abriro uma portinhola
Levei
um tranco e quebrei a viola
E
ainda puis dinheiro na caixa da esmola
Chegô
um véio se facerano
Levô
um tranco e foi cambetiano
Bejô
uma véia e saiu bufano
Sentô
de um lado e agarrô assuano
Pra
mó de o vizinho tá catingano
Entrô
uma moça se arrequebrano
E
no meu colo ela foi sentano
Pra
mó de o bonde que tava andano
Sem
a tarzinha tá esperano
Eu
falo craro: eu fiquei gostano
Entrô
um padre bem barrigiudo
Levo
um tranco dos bem graúdo
Deu
um abraço no bigodudo
Um
protestante dos carrancudo
Que
deu o cavaco c´o batinudo
Eu
vô m´imbora pra minha terra
Esta
porquera inda vira em guerra
Este
povo inda sobe a serra
Pra
mó de a Light que os dente ferra
Nos
passagero que grita e berra
Essa moda de viola, gênero típico do interior de São Paulo, tem como
tema o começo da circulação dos bondes fechados na cidade de São Paulo.
Conhecidos como “bonde camarão”, por serem de cor vermelha, esses modernos
meios de transporte urbano faziam parte do imaginário progressista paulistano.
Objeto de polêmicas, o bonde camarão é tratado nessa canção de forma satírica.
Na letra da canção, a utilização de vocábulos do universo caipira, como catingando
e porquera, e a pronúncia das palavras como véio, tarzinha,
andano e craro representam o falar de um caipira (ver Amadeu Amaral, “O
dialeto caipira”). O narrador-personagem é um músico migrante que relata as
suas impressões negativas sobre uma viagem de bonde na nova metrópole: Levei
um tranco e quebrei a viola. Na expressão Eu vô m´imbora pra minha terra,
que recupera o tema do fugere urbem, vemos um posicionamento espacial que
opõe o “aqui”, a cidade de São Paulo, e o “lá”, o interior paulista, valorando
negativamente o urbano e positivamente o rural.
A canção é organizada em cinco partes repetidas musicalmente, variando
apenas a letra na apresentação dos quadros que compõem a narrativa,
intercalados com solos de viola. Inicialmente, há uma crítica ao bonde pelo
fato de ser fechado como uma gaiola, desconfortável e, ainda por cima, custar
caro. A seguir apresenta personagens do cotidiano paulistano de forma cômica e
até maliciosa, como o velho barrigudo, o passageiro mal cheiroso e a moça
sensual. Na última parte, manifesta o seu desejo de voltar para o interior e
finaliza com uma crítica direta à Light, companhia que administrava os bondes
na cidade de São Paulo e determinava o preço das tarifas.
Nessa moda caipira, tomando a figura do “bonde camarão”, símbolo da
modernização dos meios de transporte na cidade, são satirizados os hábitos
instituídos pelo crescimento da nova metrópole, contrapondo o urbano ao rural.
No tratamento com a poesia cantada caipira, partimos do pressuposto de
que ela é herdeira da tradição oral. Isso se deve a vários fatores, mas podemos
citar dois importantes: as condições de produção e o distanciamento da língua literária
na modalidade escrita. O primeiro foi determinado pelas andanças pelo interior da
Paulistânia. Nessa vida seminômade, os poetas tinham como recurso sua voz e uma
viola para contarem seus causos e cantarem sua poesia. O segundo fator se dá
pela ausência de educação formal nos meios rurais, reservada aos habitantes
urbanos e, particularmente à elite socioeconômica.
Nesse contexto, a moda de viola se constituiu como o gênero por
excelência para a manifestação da poesia cantada do caipira. É preciso lembrar,
no entanto, que as modas de viola gravadas em disco ou executadas nas rádios
adquiriram um formato comercial, distinto daquele utilizado nas modas cantadas na
roça ao pé da fogueira. Isso se deve às exigências comerciais e também à
adaptação às tecnologias de gravação e reprodução.
José Geraldo Vinci de Moraes, ao estudar as
relações entre a cultura rural e a urbana na canção popular de São Paulo,
propõe a diferenciação entre a música caipira e a sertaneja. Esta teria origem já urbanizada sendo criada e desenvolvida nas médias e grandes
cidades, sobretudo na capital paulista, produzida e difundida pelos meios de
comunicação de massa; aquela estaria ligada às mais autênticas, instintivas e
profundas tradições do homem do campo, completamente distante dos meios de
produção e difusão de massa.
Para analisarmos o mais representativo gênero musical caipira, a moda de
viola, lançamos mão da teoria dialógica discursiva. Se, como preconiza o
pensador da linguagem Mikhail Bakhtin, um gênero discursivo é formado por um
conteúdo temático, uma forma composicional e um estilo, na moda de viola, o
conteúdo é o sentimento poético do caipira, seja na valorização de suas raízes,
na saudade da terra natal, no conflito com a cidade grande e, claro, nos seus
amores. Na forma composicional, a moda de viola é bastante tradicional,
seguindo os padrões das canções populares na relação dos versos com a melodia,
e das estrofes no diálogo com os acordes da viola. Quanto ao estilo, um aspecto
é comum às modas: a estética da simplicidade, seja na letra, na melodia e
também na harmonia, representando nas canções essa peculiar característica da
vida caipira.
Para compreender a variedade de manifestações da poesia caipira nas
modas de viola, lançamos mão das teorias sobre a canção desenvolvidas pelo
estudioso Luiz Tatit ao tratar das formas de persuasão que o cancionista se
utiliza para criar suas composições: a figurativização, a passionalização e a
tematização.
A figurativização se aproxima da entonação da fala cotidiana, criando o efeito figurativo de situação locutiva. Esse processo tem nas situações cotidianas o tema de suas letras, como observamos na canção “Moda da pinga”, de Raul Torres e Laureano.
Moda da pinga
Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meu taio
Pego no copo e dali num saio
Ali memo' eu bebo, ali memo' eu caio
Só pra carregá é qu'eu dô trabaio, oi lá
Venho da cidade, já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando
Chifrando os barranco, venho cambeteando
No lugar que eu caio já fico roncando, oi lá
Ô marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço por favor
Prosa de home nunca dei valor
Bebo com o sor quente é pra esfriá o calô
E bebo de noite pra fazer suadô, oi lá
Cada vez que eu caio, caio deferente
Me arço pra trás e caio pra frente
Caio devagar, caio de repente
Vou de currupio, vou deretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá
Pego o garrafão e já balanceio
Que é pra mor de vê se tá mesmo cheio
Num bebo de vez por que acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá
Eu fui numa festa no rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me deram pinga pra mim bebê
Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu cai no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braço dado
Ai de braço dado é com dois sordado
Ai, muito obrigado
Nessa famosa moda de viola, vemos a representação do falar caipira não
só nos elementos fonéticos e lexicais, mas também no ritmo do canto que imita o
falar arrastado próprio dos caipiras, quase sem oscilação melódica. O tema é bastante
prosaico. Surpreende por ser uma mulher a personagem que exalta o estado de
embriaguez promovido pela pinga, bebida característica da cultura caipira. O
tom é jocoso, produzindo uma sátira na exposição de um causo. Verifica-se,
então, o uso da figurativização a fim de criar um efeito como se o intérprete
estivesse falando, quando na verdade estaria cantando, acompanhado pela viola.
A passionalização é um outro processo que representa estados passionais
na canção. Nela, a melodia explora o percurso melódico com grandes curvas e
saltos ascendentes e descentes, investindo na duração das notas que incidem nos
sons vocálicos, recursos esses que desaceleram a melodia. A letra fala de
sentimentos passionais, como separações amorosas ou ainda a nostalgia da terra
natal, como vemos na linda moda “Tristeza
do Jeca”, de Angelino de Oliveira:
Tristeza do Jeca
Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sou como um sabiá
Que quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira-chão
Todo cheio de buracos
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada
Principia um barulhão
Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Lá no mato tudo é triste
Desde o jeito de falar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar
E o choro que vai caindo
Devagar vai-se sumindo
Como as águas vão pro mar.
Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
A expressão passional nessa moda de viola é marcante. Nela o personagem
canta para sua amada a tristeza de estar distante de sua terra natal. A figura
do Jeca, estereótipo do caipira, é apresentada por meio do sentimentalismo
proporcionado pela nostalgia. A passionalização está presente também no
elemento melódico que alonga as notas vocálicas e valoriza as longas curvas e
saltos tensionando a expressão cantada da letra e enfatizando o elemento
passional da canção.
Já a tematização é um processo em que a duração das vogais é reduzida e
promove-se a reiteração dos motivos rítmico-melódicos, produzindo uma
progressão melódica mais veloz, segmentada pelos ataques das consoantes. A
tematização melódica é compatível com letras que descrevem sentimentos ou
acontecimentos eufóricos. Ela também define estilos musicais como o maxixe, o
samba, a marcha etc., tendo em vista as particularidades musicais de cada um
desses ritmos. É o que vemos nesse cateretê, “Oh São Paulo!”, gravado originalmente como “samba paulista” por
Mandi e Sorocabinha.
Oh São Paulo!
Ai Oi São Paulo
Estado rico e progressista
Quando eu leio a sua história
Eu tenho orgulho de ser paulista
O Estado de São Paulo
É rico e trabalhador
E o paulista desque nasce
É um homem de valor
Anchieta deu nome santo
Para o nosso grande estado
E é por isso que São Paulo
É um torrão abençoado
Tornando o Brasil maior
Naqueles tempos de dantes
Os paulistas descreveram
A epopéia dos bandeirantes
Na política e nas artes,
Nas letras e na ciência
O paulista sempre teve
Figuras de saliência
A maior glória paulista
Essa veio bem depois
Foi o grande movimento
De julho de 32
Ai Oi São Paulo
Estado rico e progressista
Cada vez mudo o que faço
Eu tenho orgulho de ser paulista
Vê-se, nessa canção, a exaltação de São Paulo e um sentimento de orgulho
pela identificação do narrador com o Estado. Essa condição promove a
apresentação de valores eufóricos na letra, enfatizados pela repetição rítmica
e uniformidade dos motivos melódicos, promovendo a velocidade do ritmo, característico
do gênero cateretê, ou samba paulista, assim compreendido por ser tocado com
viola e percussão, diferentemente do carioca que, sincopado, recebe o
acompanhamento de pandeiro e cavaquinho.
Pressupondo-se que o “modo de dizer” do enunciador nas canções se
estabelece pela manipulação dessas três estratégias – figurativização,
passionalização e tematização –, podemos entender que “o modo de ser” do
cancionista, ou seja, o seu ethos, constitui-se pelo uso desses
recursos. A canção, sendo um gênero artístico que estimula a criatividade e a
originalidade, permite ao compositor uma variedade de opções para expressar os
seus sentimentos e opiniões na relação entre a letra e a melodia.
Ouvir, interpretar e analisar essas modas sertanejas permitiu aos
participantes da oficina não só conhecer e valorizar a importância da cultura
caipira na formação do povo brasileiro, como também apreender uma nova
concepção na análise de canções, levando em conta seu elemento fundamental, a
relação da letra com a melodia.
Por Álvaro Antônio Caretta
Álvaro
Antônio Caretta é graduado em Letras e licenciado pela Universidade de São
Paulo. Possui mestrado e doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo.
Realizou pesquisa de pós-doutorado na Universidade Nova de Lisboa. Professor do
Departamento de Letras da UNIFESP, atuou na pesquisa sobre canção popular
brasileira e discurso. Atualmente, dedica-se à escrita literária. É autor dos
livros “Estudo-dialógico discursivo da canção popular brasileira” (Editora
Annablume), “Amores em cadeados” (ebook Amazon) e “Amores amaros – contos”
(Editora Penalux).