Edição 22 - Julho/2022 | Tema

Prazer em conhecê-los!

Fernando Siniscalchi

Em um ano marcado por tantos episódios culturais, em que o centenário da Semana de 22 se faz presente de forma retumbante no país, a oficina Modernismo nas vizinhanças latino-americanas foi pensada como possibilidade de trazer ao público alguns aspectos do que acontecia literariamente em países vizinhos. Diferentemente do Brasil, o movimento modernista em países como Argentina, Chile, Nicarágua, Uruguai, entre outros, levou adiante uma diversidade de eventos e de produções a partir do início dos anos 1900, o que resultou em obras de muitos escritores e escritoras que ora em prosa, ora em verso, trouxeram seus olhares plurais para os leitores do mundo.

Bem, a ideia era e segue sendo desafiadora, a começar pela equação tempo/número de autores. Afinal, se trata de uma lista pra lá de robusta de escritores e escritoras que se dedicaram às experimentações e inovações do modernismo latino-americano. E com a fartura de escritores, veio a fartura de informações dos contextos que acompanharam tais trajetórias. Foi então que o recorte, igualmente ousado, de fixar-se em um conjunto pequeno de poemas, e seus autores, passou a definir o conteúdo dos encontros.

Mas que não faltasse a voz feminina! nos poemas que foram lidos e comentados em suas versões para o português. E assim seguimos, longe do ambiente acadêmico, focados em uma abordagem marcada pela informalidade, entrecruzando o cenário cultural no qual aqueles versos haviam sido produzidos, com doses ajustadas do caminho literário de cada um de seus autores. O grupo pequeno de participantes, embarcou nesse passeio de dados, leituras e comentários de um elenco também reduzido de versos.

As conversas começaram a se intercambiar num compasso delicado, do primeiro ao último encontro, quando contamos com a presença e o auxílio luxuoso, como nos diz o samba, do poeta, tradutor e professor Wilson Alves-Bezerra. Sua participação nos trouxe uma das vozes femininas precursoras do modernismo latino-americano, Alfonsina Storni.

Até alcançarmos o universo potente e vanguardista de Storni, passamos por questionamentos como “O que é ser latino-americano para você?”, e seguimos descascando as tantas camadas das experimentações estéticas e poéticas que esse elenco de poetas nos proporcionou.

Público diversificado, com profissões, formações e idades distintas, trouxe participações enriquecedoras. Arquitetura se juntou às letras. Poeta se somou ao futuro doutor. E assim prosseguimos entre esses autores modernistas tão inovadores, tão próximos geograficamente, mas tão distantes de nossos leitores brasileiros.

Das sensações, das experiências, das anotações, das conversas e dos questionamentos, resultou a crônica de cada um. Mas nem todos chegaram até ela. Quem sabe, os ausentes se debandaram para outros versos que, em breve, estalarão em nossos olhos e ouvidos. Estaremos atentos e fortes para percebê-los.

Por Joana Rodrigues

Giovanna Medeiros de Sousa

Hanju Cedeno Lima

Professora de Literaturas em língua espanhola da EFFLCH/Unifesp nos programas de Graduação e Pós Graduação. É autora de Antonio Candido e Ángel Rama: críticos literários na imprensa (Editora Unifesp 2018). É jornalista e no período de 1980 a 2000 atuou em vários veículos de comunicação, como Jornal da Tarde, Contigo!, Notícias Populares entre outros.   

Leia também

A Literatura Negra como herança de um Brasil Crioulo

 Ao pensarmos na formação da literatura nacional e seus marcadores raciais, na maioria das vezes surgem algumas indagações em torno das temáticas que envolvem escritos produzidos por autores negros, além de uma tensão de como classificar essas produções. Resgatando o conceito de Cuti Silv...

Leia Mais!
Amazônias poéticas: culturas, heterogeneidades, hibridismos

Em estudo primoroso, Ana Pizarro (2012) detecta que os escritos sobre Amazônia possuem uma especificidade. A grandiosidade da floresta e a dimensão fluvial saltam aos olhos de quem se defronta com ela. O rio é espaço, moradia, elo entre comunidades. Por ser uma fonte de nutrição para humanos ...

Leia Mais!
Mundos possíveis da ficção sertaneja

Convém reconhecer, desde logo, a imprecisão do título desta oficina. A categoria "prosa sertaneja" não corresponde a uma noção evidente, estanque ou autoexplicativa, sendo necessário conferir-lhe precisão e consistência. No caso, a prosa analisada acomoda textos díspares, escritos em circ...

Leia Mais!
A moda caipira encanta a nova metrópole

Na oficina Relações entre música sertaneja e canção popular urbana, trabalhamos com o cancioneiro sertanejo, observando o diálogo das canções com as transformações da cidade de São Paulo, procurando compreender, a partir do estudo das composições, os processos de assimilação da cultu...

Leia Mais!
Poesia brasileira no XXI: vozes, letras e suportes

Escrever sobre a poesia do século XXI é uma tentação de muitas faces. A face juvenil reuniria seus amigos identificados pela vida e arte. Nós os representantes da geração, compartilhando livros, autores, referenciais e estilos. Tudo tão bonito a ponto de provocar inveja a quem não foi conv...

Leia Mais!
Entre canto e fala: o fogo

Qual o lugar da voz na literatura do século XXI? Qual o papel da performance nos dias de hoje, ela que outrora foi o meio difusor principal da produção poética? Num tempo em que a expressão emanava sobretudo do corpo que se pronuncia diante da audiência. Tempo em que a palavra se apresentava ...

Leia Mais!