Edição 01 - Outubro/2020 | Tema
Sobre o jogo da poesia

Na oficina de criação literária “A poesia do jogo ҉ O jogo da poesia”, exploramos novas possibilidades de escrita poética a partir do diálogo com diversas práticas lúdicas e esportivas. Tomando como ponto de partida as atividades criativas do grupo Oulipo (formado por Raymond Queneau, Italo Calvino, Georges Perec e diversos outros escritores), propus uma série de jogos verbais com o intuito de desenvolver a capacidade imaginativa, crítica e construtiva dos participantes. Os dois primeiros encontros foram dedicados a elementos cruciais do texto poético: o ritmo e a imagem. Nos outros dois encontros, aventuramo-nos em jogos com a ficcionalização da voz lírica e com a recriação de textos já existentes.
Cada encontro se estruturou a partir da exposição de alguns pressupostos básicos, ilustrados por textos de autores de diversos locais e épocas (da Grécia clássica ao Japão do século XVIII; da Provença medieval ao Brasil contemporâneo), seguida pela proposição de exercícios de criação. A princípio, a ideia de que determinadas regras (ou restrições) poderiam estimular a criatividade soou como contraintuitiva para os participantes da oficina; no entanto, à medida que eles se dedicavam aos exercícios, logo descobriram que (assim como acontece na prática esportiva) as restrições ampliavam suas possibilidades criativas, forçando-os a pensar em alternativas que não teriam considerado caso se vissem completamente livres para escrever de qualquer forma sobre qualquer assunto.
Respeitando o ritmo de cada participante (alguns escreviam vários poemas em poucos minutos; outros preferiam fazer esboços que depois seriam desenvolvidos no período de uma semana entre cada encontro), conseguimos reunir uma coleção de textos variados, inventivos e vigorosos: haicais sintéticos e poemas que se estendiam por três páginas; textos metrificados e rimados, poemas em verso livre; poemas escritos a partir de outros textos ou de experiências individuais...
Uma parte fundamental de cada encontro foi a partilha dos textos entre os participantes, feita num ambiente de camaradagem e respeito mútuo, em que algumas sugestões foram decisivas para a forma final dos poemas. Fiquei particularmente tocado pelo empenho dos participantes, que levaram a sério todas as atividades propostas e se mostraram abertos para se transformarem através da escuta e da leitura da voz dos outros poetas, compreendendo suas vozes singulares como frutos de um diálogo contínuo com a tradição literária e com a sociedade contemporânea.
Por Marco Catalão
Veja, a seguir, textos poéticos produzidos durante a oficina “A poesia do jogo ҉ O jogo da poesia”, realizada por Marco Catalão na Biblioteca Parque Villa-Lobos, em maio de 2020:
Sabrina Silva - Sem título (1)
Sabrina Silva - Sem título (2)
Thiago Ballestero - Sem título
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Marco Catalão é poeta, dramaturgo e ficcionista. Doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, ele é autor de "No cravo e na ferradura", "O cânone acidental", "Agro negócio", "Sob a face neutra" e "As asas do albatroz". Entre 2015 e 2019, fez pós-doutorado em Teoria do Teatro pela USP com estágio na Université Sorbonne Nouvelle. Em 2018 e 2019, recebeu o Prêmio de Incentivo à Publicação Literária.