A obra é um dos mais importantes romances memorialistas da
literatura contemporânea brasileira. A autora traduz, a partir de seus muitos
personagens, a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam
cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada
dia têm a vida por um fio. Sem perder o lirismo e a delicadeza, a autora
discute, como poucos, questões profundas da sociedade brasileira.
Ao longo do século passado, prevaleceu a visão de que os
descendentes dos africanos se encontravam, no Brasil, numa condição muito mais
favorável do que a vivida pelos negros no sul dos Estados Unidos ou na África
do Sul do apartheid. Mais do que estabelecida, essa era uma visão oficial: o
Brasil seria uma democracia racial, um lugar em que o grande problema do negro
era a pobreza e não o preconceito de cor. Foi contra essa falácia que Abdias
Nascimento se insurgiu ao apresentar, no Segundo Festival de Artes e Culturas
Negras, em Lagos (Nigéria, 1977), em plena vigência da ditadura militar, um
texto combativo, a começar pelo título, demonstrando que a condição dos negros
no Brasil não era realmente como aquela nos EUA ou na África, era pior, vítimas
que são de um racismo insidioso, de uma política que conduz a um genocídio,
para usar o termo do autor, que, ausente das leis e dos discursos políticos, se
revela cotidianamente.
Filósofa, antropóloga, professora, escritora, militante do
movimento negro e feminista precursora, Lélia Gonzalez foi uma das mais
importantes intelectuais brasileiras do século XX, com atuação decisiva na luta
contra o racismo estrutural e na articulação das relações entre gênero e raça
em nossa sociedade.Com organização de Flavia Rios e Márcia Lima, Por um
feminismo afro-latino-americano reúne em um só volume um panorama amplo da
obra desta pensadora tão múltipla quanto engajada. São textos produzidos
durante um período efervescente que compreende quase duas décadas de história ―
de 1979 a 1994 ― e que marca os anseios democráticos do Brasil e de outros
países da América Latina e do Caribe. Além dos ensaios já consagrados, fazem
parte desse legado artigos de Lélia que saíram na imprensa, entrevistas antológicas,
traduções inéditas e escritos dispersos, como a carta endereçada a Chacrinha, o
Velho Guerreiro. O livro traz ainda uma introdução crítica e cronologia de vida
e obra da autora.Irreverente, interseccional, decolonial, polifônica, erudita e
ao mesmo tempo popular, Lélia Gonzalez transitava da filosofia às ciências
sociais, da psicanálise ao samba e aos terreiros de candomblé. Deu voz ao
pretuguês, cunhou a categoria de amefricanidade, universalizou-se. Tornou-se um
ícone para o feminismo negro.
A websérie Quantas autoras negras você já leu? convida o público a uma reflexão sobre a invisibilização de autoras negras. Este episódio é apresentado por Juliane Sousa, uma das responsáveis pelo projeto "Mulheres Negras na Biblioteca".
Conceição Evaristo e Mano Brown trocam uma ideia sobre o movimento negro, autoras negras no Brasil e a "escrivivência", no programa Mano a Mano. Escute agora!