Edição 47 - Agosto/2024 | Editorial
O canto caipira do Brasil
A
partir do Povo Brasileiro (1995), de
Darcy Ribeiro (1922-1997), o projeto Literatura Brasileira no XXI vem
promovendo diversificadas oficinas em 2024. Já tivemos uma ação voltada à prosa
caipira, abordando, por exemplo, a narrativa de Guimarães Rosa. Agora, fechamos
o foco na poesia cantada por essa população espalhada por estados das regiões
sudeste, sul e centro-oeste.
Conforme
os caipiras – fusão, em princípio, de portugueses com indígenas e depois também
africanos – foram partindo de cidades como São Vicente e São Paulo para o
sertão, novas povoações foram fundadas. Em geral pouco ou nada alfabetizadas,
essas pessoas cantavam saudades, religiosidades, lidas com a terra e os
animais, conflitos e tudo o mais, principalmente no braço da viola de arame ou
viola caipira.
A
cultura do violão chegou ao Brasil depois, marcando nossas práticas musicais só
a partir do século XIX. Antes disso, a viola predominava tanto no campo, onde
até a década de 1970 morava a maioria da população brasileira, e na cidade,
quando a viola se espalhavas pelas ruas e participava dos bailes de sociedade,
junto ao cravo e ao piano.
Com
o advento da cultura de massa no século XX e o surgimento do mercado
fonográfico, a música caipira, tendo como centro a viola de dez cordas e os
duetos, com apoio do violão de seis, transforma-se num dos principais produtos
culturais do país. É, de fato, um dos poucos gêneros de canção que jamais
entrou em crise, presente no imaginário de gerações de 1929, com as primeiras
gravações de Cornélio Pires, até hoje.
Assim
é que o escritor, professor, linguista e músico Álvaro Antônio Caretta, com a
oficina “Relações entre música sertaneja e canção
popular urbana”, tratou da
música caipira e sua rica poesia a partir das movimentações histórico-geográfica
do caipira.
Qual
é a mensagem que esse povo canta? Saindo desde o século XVI do litoral e da
capital para ocupar os sertões, lá permanecendo ou depois retornado, sobretudo para
a Grande São Paulo, como migrante no século XX, o que os caipiras têm para
contar e cantar até hoje? Vamos descobrir juntos?