Edição 01 - Outubro/2020 | Entrevista
O que jogos e literatura têm em comum?

As Olimpíadas, que acabaram sendo canceladas este ano por conta do enfrentamento da pandemia, foram a fonte de inspiração para a oficina de criação literária realizada no primeiro semestre de 2020 pela Biblioteca Parque Villa-Lobos. Intitulada “A Poesia do Jogo e o Jogo da Poesia”, a atividade, que somou quatro dias de encontros online, foi conduzida por Marco Catalão.
Catalão abriu os trabalhos traçando um panorama das ações criativas do grupo Oulipo, e propôs que os alunos participassem de jogos verbais para desenvolver a imaginação e a análise crítica. Em cada encontro, o foco ficou um tipo de escrita, com exercícios práticos, que resultaram em textos publicado neste site. O bloqueio criativo pode ser um grande problema, principalmente neste tempo de isolamento e preocupações com a pandemia. E a questão foi apontada por vários participantes da oficina. Neste sentido, Catalão acredita que há vários exercícios que podem contribuir para “destravar” e indicar caminhos para que a fluidez da criatividade seja retomada. Entre as estratégias, ele destaca a restrição e a repetição como gatilhos para os textos.
Em aula, ele apresentou um vídeo com a sequência de um jogo de futebol e apontou a relação entre um gol do esportista Grafite e uma obra de arte. Segundo Catalão, o que torna o lance especial, além do resultado sempre almejado pelos atacantes (o gol), é o elemento surpresa, o inesperado. Tendemos a achar que algo que não nos surpreenda ao final pareça uma obra menor. E, por isso, a surpresa e reviravolta são sempre bem-vindas no que produzimos. Baseando-se no trabalho do grupo Oulipo, ele cita o estabelecimento de regras como um ponto de partida possível para a criação de textos. E dá um forte exemplo: tente não utilizar uma letra ou uma determinada palavra. O que, aparentemente, pode ser encarado como obstáculo, torna-se um desafio para pavimentar este caminho de construção do conteúdo. “As regras podem ser libertadoras”, segundo ele, salientando que, às vezes, é mais fácil escrever a partir deste conjunto de parâmetros pré-estabelecidos. “A criatividade encontra caminhos, quando apresentamos obstáculos”, destaca.
Como sugestões de leitura, Catalão indica textos de Manuel Bandeira e de Edgard Alan Poe, entre outros, para evidenciar a importância do ritmo na poesia, que também pode ser resultado da multiplicação de uma mesma frase ou palavra. Em aula, ele aplicou um exercício que você pode reproduzir aí, na sua casa: crie um poema a partir de uma sentença que se repita pelo menos uma vez – “essas não vão voltar”; “e ficarão os pássaros”; “virá a aurora”; “vida feliz”.