Edição 11 - Agosto/2021 | Entrevista

Saiba mais sobre a marca do indianismo na literatura brasileira

Foto: acervo pessoal.

Conduzida pelo professor Fábio Martinelli Casemiro, a oficina online "Indianismos na Literatura Brasileira", realizada em junho na programação da Biblioteca Parque Villa-Lobos, traçou panorama da presença, destacou importância e assinalou marcas da cultura indígena nos textos literários. A primeira aula levou os alunos dos registros iniciais sobre a natureza no nosso território até conteúdos nos quais a voz desses povos está impressa no papel de protagonistas de suas próprias histórias. A relação de Casemiro, poeta, músico e doutor em Literatura, é forte. Em sua pesquisa de pós-doutorado em Letras da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), ele estuda representações de natureza na literatura brasileira e essa paixão pelo assunto só tem crescido. Casemiro conta que, diante do que tem coletado, vem compreendendo que essa presença – da natureza – está constantemente atrelada às manifestações das culturas popular, negra e indígena. E foi esse o caminho que o levou a estudar também – como frisa – a literatura indígena.

O professor ressalta que, com os textos, observamos ainda como se dão as estratégicas políticas que nascem das relações estabelecidas a partir da ação dos colonizadores diante dos povos originários, e até da migração forçada do tráfico vergonhoso de escravos africanos para o Brasil. Como os indígenas aparecem – ou não – em nossa literatura diz muito sobre o olhar para o outro e como nos reconhecemos em nossas multiplicidades e diferenças, acrescenta. O professor lançou provocações sobre quem são e como estão retratados os povos originários na história da literatura brasileira. E demonstrou que não há uma só resposta para esse questionamento. Como apontou em aula, os povos indígenas são apresentados, até o século XVII, em geral, em textos épicos ou informativos (verdadeiros tratados descritivos de costumes e características da terra) ou ainda em religiosos (com o indígena como “alvo” de conversão). Para compreender melhor o que se deu entre os séculos XVII e XVIII, Casemiro compartilhou referências como as obras “Prosopopeia”, de Bento Teixeira; “Uraguai”, de Basílio da Gama; “Caramuru”, de Frei Santa Rita Durão; e “Vila Rica”, de Cláudio Manuel da Costa. Ao passar para as explicações sobre o século XIX, o professor destacou textos de Gonçalves de Magalhães (“A confederação dos tamoios”) e Gonçalves Dias (“Juca Pirama” / “Os Timbiras”).

Segundo Casemiro, dentro do romantismo da época, é possível observar as várias subtendências da descrição de indígenas, mas sempre com a característica de enaltecimento da nação; elege-se o indígena como herói da fundação da raça, do caráter brasileiro. Ainda nesse período, os romances de José de Alencar são bastante lembrados como “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”. “O Guêsa errante”, de Sousândrade, também foi citado pelo professor que avançou por temas relacionados à Semana de 1922, ao Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, e “Magma”, livro de poemas de Guimarães Rosa, de 1936. A aula contou ainda com as citações de autores contemporâneos que vivem, tratam ou retratam o tema como Kaká Werá, Ailton Krenak e Eliane Potiguara, entre outros.  Confira os textos produzidos nas aulas, que fizeram parte do projeto Literatura Brasileira no XXI, e estão disponíveis aqui. O link leva ainda aos conteúdos produzidos por Casemiro e a escritora Julie Dorrico.

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