O livro reexamina o lugar da prosa ficcional rural na cena
literária brasileira do século XIX. Considerando o estudo da posição social do
narrador, do protagonismo do homem livre pobre e da centralidade da ação
violenta na estruturação das ações narrativas, o ensaio sinaliza e situa os
impasses e as contradições da formação do romance brasileiro constituído a
partir da matéria rural.
O Cabeleira é um romance de transição. Publicado em 1876,
centra-se na história de um criminoso de Pernambuco e região, José Gomes, de
alcunha Cabeleira, antecessor de Lampião. Ao longo do enredo, o autor se vale
das trovas transmitidas geração a geração, como se fossem a "linha
condutora" da narrativa. Além de valorizar a região e a cultura popular
nordestina, eternizando a figura do Cabeleira, os episódios são recriados pelo
narrador, originando um verdadeiro panorama histórico e social do Nordeste.
Considerado um "romance de espantar", sua importância não é apenas
literária, mas também histórica.
Um Brasil desconhecido, de paisagens coloridas e exuberantes
contrastando com uma pobreza evidente, um amor proibido dá início a uma saga de
lutas e aventuras. Arnaldo um sertanejo de hábitos simples, filho de um local
onde o sol queima e a água falta apaixona-se por Flor filha de seu patrão um
fazendeiro capitão-mor, conhecido como o maior homem do Ceará. Apesar de
simples, Arnaldo é destemido e determinado e lutará contra diversas barreiras
para viver seu amor genuíno. Em O Sertanejo, publicado em 1875, José de
Alencar nos leva para um local de natureza bruta, ainda pouco desbravado no
final do século XIX o sertão no nordeste do país. Alencar povoa nossas mentes,
mexendo o caldeirão de nosso imaginário com seus ricos personagens e locais
detalhadamente descritos.
A presente obra é dividida em três partes fundamentais: a
Primeira Parte ocupa-se de apresentar os principais estudiosos da segunda
metade do século XIX que, coletâneos a autores como Sílvio Romero, foram
responsáveis pelas primeiras discussões sobre a miscigenação e a formação da
cultura brasileira a partir do mestiço. A Segunda Parte procura situar o autor
Franklin Távora, antes identificado como um daqueles primeiros
"folcloristas" brasileiros, no cenário da produção literária nacional
dos anos 1870; nessa perspectiva, dá-se enfoque às conhecidas críticas do autor
a José de Alencar nas "Cartas a Cincinato" (1871-1872). A Terceira
Parte da obra, por fim, apresenta uma análise dos cinco romances da Literatura
do Norte de Távora, a fim de demonstrar em que medida o autor consegue afinar
as ideias de seu projeto literário – muito atrelado aos estudos dos primeiros
"folcloristas" – às convenções de composição do gênero romance, em
sua época.
Assista o bate-papo do romancista, ensaísta e tradutor, Caetano W. Galindo com autora Eliana Alves Cruz no programa “Trilhas e Letras” (TV Brasil), gravado na Feira do Livro de São Paulo 2024. Na pauta, novas formas de ler e produzir romances.
Belchior já dizia que Nordeste é uma ficção, Nordeste nunca houve. Este episódio do podcast Budejo é sobre desvendar a invenção do Nordeste. Quem criou esse imaginário, a quem ele serve e porque até hoje se perpetua? Ouça aqui.