Edição 35 - Agosto/2023 | Editorial

Aula da democracia

Obra Sherazade (Hilal Sami Hilal 2015)

A defesa da democracia norteia o projeto Literatura Brasileira no XXI em 2023. Para além da política institucional, valores democráticos devem ser semeados em espaços menores. A tarefa do cidadão é verificar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em âmbito municipal, estadual e federal, e também participar das decisões de bairro, condomínio, igreja, esporte, família, escola, banda de música, empresa.  

Poucos lugares preparam tanto para o exercício democrático como a sala de aula. Ali, há grupos constituídos com poderes e regras, convivendo quase que diariamente. O debate é permanente, o conhecimento refletido testa o senso comum. A aula física ou virtual, assim, prepara sujeitos críticos e conscientes de deveres e direitos. Mas num país marcado por uma história escravocrata e exploratória - onde vigora o “manda quem pode, obedece quem tem juízo” -, a prática escolar ganha em complexidade.

A oficina "Conversando sobre textos: literatura, escola e exercício da democracia", proposta por Júlio Vale, mestre formador de centenas de professores para os ensinos fundamental e médio, não fugiu de encarar o problema de frente. Afinal, ensinar alguém a ler um texto, a ler o mundo e mesmo a ler a si próprio é o primeiro passo rumo à sociedade mais democrática. 

Vivemos num país que ainda se lê e compreende pouco. O largo acesso a informações na web não se converteu, necessariamente, em aprofundamento reflexivo. Daí extremismos terem vingado, com mentiras fantasiadas de verdades, fabricadas para serem engolidas em segundos. Que o tempo da reflexão crítica seja replantado, que aqueles que o cultivam, desde os primeiros anos escolares, sejam os jardineiros da democracia.

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