Edição 16 - Janeiro/2022 | Editorial
Estação de chegada: 1922
O ano de 2022 carrega duas efemérides de peso: o bicentenário da Independência do Brasil e o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. A primeira significa a rompimento com Portugal, antiga metrópole que se apossou e colonizou o país a partir de 1500.
Uma ruptura controversa, evidente, pois que capitaneada por um português, Pedro I, financiada a juros pela Inglaterra e sem participação popular.
A segunda foi anunciada, a seu tempo, como libertação intelectual do Brasil, cem anos depois da autonomia política. Tal exagero era parte da retórica dos modernistas, empenhados em conseguir espaço público e institucional. A independência para criar e interpretar tinha muito de metafórica, posto que os ideais vanguardistas pulsavam, por exemplo, antes da Europa branca que do pensamento miscigenado nacional.
Além disso, a Semana de 22 não inventou a invenção entre nós, embora tenha sido, sem dúvidas, um dos principais capítulos inventivos de nossas artes cultas. Com a oficina Modernos, antes de 1922, Francine Ricieri revela, justamente, todo um legado moderno e experimental praticado, desde o século XIX, por nomes como Cruz e Souza ou Gilka Machado.
Nessas práticas literárias – e até comportamentais – parte daqueles que seriam modernistas, como Manuel Bandeira e Guilherme de Almeida, se formaram escritores. Isso nos leva a festejar a Semana numa chave crítica, percebendo seu valor enquanto enorme estação em que se cruzam diversas linhas, e não como partida inovadora materializada do nada.