Edição 42 - Março/2024 | Editorial
O sertão em cada um
O Povo Brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro (1922-1997), vem norteando oficinas do projeto Literatura Brasileira no XXI. Neste mês de março, o foco é o Brasil Sertanejo, cujos traços culturais, econômicos e sociais são localizados pelo estudioso principalmente na região que hoje chamamos de Nordeste.
Apossada por portugueses em princípio a partir do litoral, a região foi o centro político e financeiro da Colônia por quase três séculos. Ali desembarcaram contingentes de europeus, árabes, judeus e africanos. A riqueza advinda do comércio mundial do açúcar, dominado por Portugal-Brasil, atraia gentes de toda parte, desde os que vinham por vontade empreender, até os que chegavam forçados a pelejar na lavoura da cana.
Território em disputa, os nativos resistiram às invasões lusas e depois inglesas, holandesas, espanholas e francesas. As potências europeias, dos séculos XVI ao XVIII, cobiçavam nosso Nordeste, um processo violento que foi interiorizando povos originais e formados da mistura étnica, todos alijados de terras, títulos de nobreza e posses.
Constituído de pessoas descartadas dos engenhos, tocadas à força de fome e bala das cidades litorâneas ou, ainda, enviadas pelos senhores a ocupar os ermos desconhecidos, o sertão foi um desaguadouro de gentes. Mais que isso, virou reduto de esperanças, conhecimentos orais, ofícios, crenças, técnicas de cultivo, cantos e narrativas mis.
Foi
esse legado, dos mais originais deste país, que a professora e pesquisadora Susana
Souto, da Universidade Federal de Alagoas, e Joel Vieira, indígena Katokinn e
professor, fizeram emergir da oficina “O sertão múltiplo”. Além do sertão
nordestino geográfico, fizeram acordar nos participantes o sertão que cada um
pode carregar consigo em memórias, falares, valores e vivências. Respirem fundo
e desfrutem a leitura!