Edição 11 - Agosto/2021 | Editorial

Para se fazer ouvir e ler

Julie Dorrico. Foto: Divulgação.

Em plena pandemia, que já consome um ano e meio de nossas vidas, isso sem contar aquelas criminosamente ceifadas para sempre, a Biblioteca Parque Villa-Lobos, em mais uma edição das oficinas de literatura, une a ancestralidade da literatura indígena à modernidade dos cursos à distância. Mas nada dos lugares comuns entre primitivo e avançado ou qualquer coisa que o valha. Como Julie Dorrico bem fala, são formas escolhidas e aproveitadas por representantes das populações originárias, junto com o livro e a escrita alfabética, de se fazerem ouvir.

E o recado dado é mais do que urgente. Não se trata apenas das denúncias de uma violência genocida e secular, nem da afirmação de vida e resistência, mas da sua combinação, que enforma toda uma visão de mundo, com a qual é indispensável aprender. O duplo signo da ameaça constante e da tenacidade necessária é a forma de vida e imperativo ético contemporâneo por excelência.

A oficina “Indianismos na Literatura Brasileira”, ministrada pelo professor Fábio Martinelli Casemiro, trouxe para primeiro plano o território de disputas que a figura do indígena tem ocupado no imaginário brasileiro, desde o século XIX, quando foi apropriado como ferramenta de construção de uma identidade nacional, até a contemporaneidade, momento em que novos autores e novas autoras assumiram o protagonismo das suas próprias histórias, denunciando o genocídio que os povos originários têm sofrido e reconstruindo as linhas de sua ancestralidade.

Nesse processo, a crítica literária, como mostrou Fabio Casemiro, é ferramenta fundamental de compreensão desse fenômeno, como fica claro nos textos disponibilizados. Somente por meio da leitura cuidadosa é que se pode inferir todas as contradições desse processo de apagamentos, violências e sobrevivências.

Leia também

Poesia para ler, ouvir, tocar, vestir...

Darcy Ribeiro conclui O Povo Brasileiro (1995) afirmando que o Brasil se tornara uma nova Roma tropical. “A maior das nações neolatinas, pela magnitude populacional, e (...) também pela sua criatividade artística e cultural.” A capacidade social de receber e forjar novas humanidades, portan...

Leia Mais!
Canto que venta do Sul

Para Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro, 1995), a Brasil Sulino é a área mais heterogênea do país, estendendo-se pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tal diversidade contrasta com a menor extensão desse território, se comparado ao Brasil Caboclo, e ocorre em apenas tr...

Leia Mais!
O preto em todos os Brasis

O Povo Brasileiro (1995), Darcy Ribeiro (1922-1997) fala do português como povo euro-africano, que vem implantar uma economia açucareira e escravista a partir, principalmente, do Nordeste. Mas para além da cor predominante na força de trabalho que fez rodar as engrenagens deste sistema, o chama...

Leia Mais!
Enorme Norte

Darcy Ribeiro (1922-1997), em O Povo Brasileiro (1995), estuda a predominância das populações caboclas na Região Norte do Brasil. Mesmo com a chegada de contingentes vindos da Europa e da África árabe e subsaariana, os povos originários determinaram cultural e geneticamente a maior parcela te...

Leia Mais!
O sertão em cada um

O Povo Brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro (1922-1997), vem norteando oficinas do projeto Literatura Brasileira no XXI. Neste mês de março, o foco é o Brasil Sertanejo, cujos traços culturais, econômicos e sociais são localizados pelo estudioso principalmente na região que hoje chamamos de ...

Leia Mais!
Caipira: um causo do Brasil

Inspirado no Povo Brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro (1922-1997), o projeto Literatura Brasileira no XXI segue com seu novo ciclo. Depois da primeira ação mais panorâmica, a segunda concentra-se numa das cinco unidades geográficas, econômicas, étnicas e culturais do país: o Brasil caipira.S...

Leia Mais!