Publicações | Destaques

Terra que dá canção

O projeto Literatura Brasileira no XXI segue somando literatura com democracia. Houve um tempo, nem tão passado, em que a literatura que nos representava como nação precisava estar no livro. O cantado de canto em canto, ou de boca em boca contado, não era digno da cultura brasileira. Até crônicas e contos não raro carregavam o peso de nascerem na efemeridade de jornais e revistas.

Mas desde o século XIX, uma expressão popular que acolheu até eruditos foi vingando como árvore frondosa, resistente a ventos e motosserras. Era a canção popular brasileira em seus muitos ramos. Em princípio despeitada por nossas elites, hoje representa o nome do Brasil no mundo mais que a própria literatura convencional.

A partir do século XX, com o rádio e depois a televisão, com a popularização da reprodução mecânica da música em disco de acetado e vinil, a canção cantou nossos eventos e sentimentos. Nada lhe escapou, o cinema falado chacoteado por Noel Rosa (“Não tem tradução”, 1933), ou a escalada da violência urbana em versos de Itamar Assumpção (“Baby”, 1980).

Juliana Amaral, uma verdadeira multiartista (cantora, compositora, poeta, cenógrafa, atriz e por aí afora), ofereceu a oficina “Canção-Assentamento: terra, território e terreiro”. Como o título sugere, ela selecionou o debate sobre a terra, algo que marca nossa canção urbana e rural desde sempre.

A terra que se perde e ganha. A terra que se invade e toma. A terra que dá frutos e colhe mortes. A terra que brota prédios e quilombos. A terra que dá a canção talvez mais diversa em ritmos e temas do planeta. Participantes leram canções com seus olhos, ouvidos e histórias. E, no final, compuseram um canto coletivo, um coro de mulheres, vozes enraizadas na terra-canção brasileira.

Boa leitura-ouvida! 

Leia também

Livros e Telas

Muitas obras literárias nos levam a pensar a democracia, como vem propondo o projeto Literatura Brasileira no XXI. E isso é tão forte que extrapola as páginas dos livros, que a partir do século XX começam a chegar ao público através de adaptações radiofônicas, teatrais, televisivas e, como d...

Leia Mais!
Mulheres no comando da narrativa

Dentro do projeto Literatura Brasileira no XXI, 2023 é marcado por oficinas que refletem, para defender, a democracia. A literatura brasileira sempre teve um caso tenso com valores democráticos, ora perseguida por exaltá-los, ora reconhecida por se manter do lado mais difícil da história.Mulheres ...

Leia Mais!
Lendo Brasil como distopia

O projeto Literatura Brasileira no XXI, em 2023, oferece oficinas que afirmam os valores democráticos. Pensar isso a partir da literatura é uma resposta aos ataques sofridos, mais gritantes a partir de 2018. Não previmos, todavia, que, neste fevereiro, estaríamos varrendo cacos de um atentado contr...

Leia Mais!
Democracia sempre

No ano de 2023, o projeto Literatura Brasileira no XXI debruça-se sobre um tema que, no fundo, é um valor: a democracia. Com suas tenções e imperfeições, em seus vários modelos, ela só pode ser alguma coisa construída. Algo que, nas mais diversas esferas da vida, não é natural, tal como um m...

Leia Mais!
Modernismo em português: três continentes

Em dezembro, o projeto Literatura Brasileira no XXI conclui o ciclo de oficinas conectadas à Semana de Arte Moderna de 1922. Foram ao todo doze, sempre tratando os mais diversos aspectos, dos antecedentes, passando pelo impacto do evento na imprensa da época, até sua influência em outros países da...

Leia Mais!
Modernismo: o negro

Em novembro, o dia da Consciência Negra sempre leva o projeto Literatura Brasileira no XXI às potências afros de nossa cultura literária. No caso específico da Semana de Arte Moderna de 1922, é fato que os negros eram poucos na audiência, e mesmo na proa do Movimento Modernista predominava a gen...

Leia Mais!