Edição 13 - Outubro/2021 | Editorial

Um salve a quem ensina!

Foto: Equipe SP Leituras

Para quase todos, as primeiras letras e palavras começam na escola. O amor pela leitura de livros e de seres também costuma vir pelas mãos de professores, mesmo quando há falta de bibliotecas, pouco incentivo familiar e social, preço impeditivo do livro e, pior, vinga a ideia de que ler é perigoso para o pobre ou para o não especialista. 

Em O triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto combate tal crença, útil a quem deseja subjugar o povo pela ignorância. Quando o Major Quaresma passa a estudar e a constituir acervo de obras, herda o desafeto do Doutor Segadas, que não admitia livros em mãos de quem não fosse formado em faculdade. Denuncia ele os endinheirados sem espírito coletivo, em geral medíocres mas bem “arranjados”, a defender que leitura enlouquece. É a sua fina ironia para provar, por inversão, que leitura, na real, esclarece.

A oficina Professores personagens da literatura: textos sobre outros textos, ministrada por Lilian do Rocio Borba, tratou de dar vida a mestres e mestras que, tendo nascido em páginas literárias, almejam a dignificação do humano, movem-se pela justiça. Bibiana, de Torto Arado, abre as janelas da literatura e da vida a seus alunos, seus iguais no mundo. Já Alice, de Quarenta Dias, costura extremos. A viagem do autoconhecimento é da menina, mas também da senhora aposentada, cujo valor não se encerra numa conta da previdência social. 

No fundo, uma delicada homenagem ao 15 de outubro, Dia do Professor. Essas personagens, homens e mulheres, que nos ensinam a ler sonhos, a ter ciência da injustiça. Desrespeitados pelos que ganham com a cegueira do hoje, são amados por quem descobrirá o amanhã. Um salve a quem ensina!


Leia também

Narrativas do Sul: leitura com olhos e ouvidos

Em O Povo Brasileiro (1995), Darcy Ribeiro desenha o Brasil Sulino como espaço diversificado, que tanto se espalha pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, quanto se conecta a migrações internas e externas. A pluralidade aí detectada, em que pese o território menor em comparação ao...

Leia Mais!
Autoria preta sobre todo assunto

Desde seu primeiro ano de existência (2020), o projeto Literatura Brasileira no XXI dedica um olhar especial ao vinte de novembro, Dia da Consciência Negra. Como neste ano propomos ações a partir da obra o Povo Brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro (1922-1997), foi natural conectar a presente of...

Leia Mais!
Amazônia pela Amazônia

O projeto Literatura Brasileira no XXI volta ao Brasil Caboclo, um dos cinco complexos sociais abordados por Darcy Ribeiro (1922-1997), na obra Povo Brasileiro (1995). Se nossa primeira visita à região, tão grande quanto ainda mal conhecida pelas demais, colocou a prosa no centro, agora temos a ...

Leia Mais!
O contar sertanejo

O Brasil Sertanejo é um dos complexos sociais que, no livro o Povo Brasileiro (1995), Darcy Ribeiro (1922-1997) considera imprescindível para compreender a gênese do país. Se em março de 2024 tivemos a questão iluminada pela poesia, agora em setembro, o projeto Literatura Brasileira no XXI fo...

Leia Mais!
O canto caipira do Brasil

A partir do Povo Brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro (1922-1997), o projeto Literatura Brasileira no XXI vem promovendo diversificadas oficinas em 2024. Já tivemos uma ação voltada à prosa caipira, abordando, por exemplo, a narrativa de Guimarães Rosa. Agora, fechamos o foco na poesia cantada...

Leia Mais!
Poesia para ler, ouvir, tocar, vestir...

Darcy Ribeiro conclui O Povo Brasileiro (1995) afirmando que o Brasil se tornara uma nova Roma tropical. “A maior das nações neolatinas, pela magnitude populacional, e (...) também pela sua criatividade artística e cultural.” A capacidade social de receber e forjar novas humanidades, portan...

Leia Mais!