n. 2 (2022): Vozes Discentes II

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Editorial 

Com este segundo número, a revista Cadernos Acadêmicos: conexões literárias consolida-se como um dos principais produtos acadêmicos do projeto de extensão Literatura Brasileira no XXI: cadernos acadêmicos, por sua vez, parte do convênio de cooperação técnica estabelecido entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a SP Leituras – Associação Paulista de Bibliotecas e Leitura.

 No passado, reflexões e resultados acadêmicos cumpriam seu papel se permitissem a formação e o diálogo localizado num departamento, núcleo ou grupo de pesquisa. Hoje, a pesquisa científica supõe publicação e divulgação do conhecimento produzido em todos os níveis: graduação, extensão e pós-graduação. Com isso, consolidou-se a ideia de que os trabalhos, realizados em sala de aula ou em laboratórios, devem transcender a relação entre pesquisadores e orientadores. Eles  devem, pois, buscar a interlocução com um público mais amplo para além da academia e, sobretudo, consolidar a missão fundamental da universidade com a formação de professores e o diálogo direto com a educação básica.

 Como a pesquisa tem sido cada vez mais realizada em rede, todo pesquisador experimenta seus métodos e inquirições acompanhando sucessos e falhas de seus pares. Vai longe a ideia de pensadores solitários, correndo o risco de desenvolverem técnicas e interpretações concomitantes sem se conhecerem, sem se ajudarem ou mesmo colaborarem.  Mas o presente impõe ao menos dois desafios.

 O primeiro é a hiper produção de artigos ou relatos de pesquisas como mera contabilidade acadêmica, numa espécie de busca desenfreada de dividendos científicos que não  necessariamente redundam em inovação, ou sequer ampliam a  visão de mundo dos agentes da ciência. É quando a lógica de mercado, sem regras e balanças de qualidade e impacto social, toma conta até de espaços que deveriam, por natureza, questioná-la. Ora, quando propomos um modelo de revista em que alunos e pesquisadores convertam-se em leitores uns dos outros, uns servindo de modelo ou degrau para os outros, buscamos criar uma comunidade viva de pesquisa e reflexão, uma rede cuja amplitude, vale destacar, congrega estudantes e pesquisadores de diferentes instituições nacionais e internacionais, promovendo assim o diálogo e o intercâmbio que vem contribuir também para a desterritorialização do conhecimento.

O segundo é sublinhar o caráter coletivo e até mesmo comunitário da produção de conhecimento. Nesse sentido, uma geração de pesquisadores é sempre necessariamente devedora e continuadora (e questionadora) das gerações que a antecederam. O saber novo, as perspectivas inusitadas, assim como a partilha de conquistas e lugares assentes, todos esses processos só se viabilizam dentro de um campo consolidado, em que se estabelecem diálogos, incorporam-se contribuições e observam-se possibilidades de ruptura. É nessa chave que a entrevista realizada com o professor Paulo Franchetti pode ser lida, ao explicitar os processos e o longo tempo investido na elaboração de uma dicção própria ou de um modo particular de ler e construir conhecimento sobre poesia. Que é, ainda, o reconhecimento (de sua parte) dos mestres e pares que o alimentaram e inspiraram, bem como a continuidade de um magistério bem ilustrado na relação com os entrevistadores, por sua vez formados no convívio real ou de letras com o ensino do entrevistado. 

A edição formaliza, assim, a convicção naquele caráter coletivo e comunitário do conhecimento e resgata, afetuosamente, na figura desse mestre, o tipo de relação acadêmica e pessoal que acreditamos vitalizador da instituição universitária.

Publicado: 2022-06-29

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