Poesia é fôlego vital de
resistência negra-feminina e é esse o fio condutor desta obra de Conceição
Evaristo, Lívia Natália e Tatiana Nascimento, de Heleine Fernandes. A autora
mergulha nas Escrevivências poéticas das três poetas afro-brasileiras para
fazer emergir reflexões sobre o labor estético como pulsão de vida, resistência
e permanência de mulheres negras. Para tal tarefa, a autora apresenta um
panorama que localiza a produção feminina e negra na literatura, evidenciando o
quanto essa arte – que se quer canônica – reproduz o ethos ocidental calcado na
lógica patriarcal, colonizadora e supremacista branca. Em seguida, aprofunda a
reflexão em torno do epistemicídio, esse silenciamento e apagamento genocida
que recai sobre as produções, tecnologias e saberes negros, apontando o quanto
a literatura afro-brasileira tem uma agenda contraepistemicida, que localiza os
emparedamentos da negritude para reforçar a identidade na luta antirracista e
antigenocida. É uma referência para os estudos de poesia feminina negra, pois,
não apenas aponta o problema do racismo estrutural e o machismo vigente na
literatura brasileira, mas, sobretudo, desvela a produção epistêmica
afrodiaspórica usando três artistas negras da contemporaneidade de diferentes
gerações e compreensões de sua identidade.
Imagine um mundo atravessado por
buracos negros, impregnado por fantasmas estranhamente familiares e, ao mesmo
tempo, crivado de ironias, no qual o visitante é recebido num universo paralelo
que, não por acaso, é aqui mesmo. Em Robinson Crusoé e seus amigos, de
Leonardo Gandolfi, quem dá as boas-vindas é um coro surpreendente de figuras,
registros e duplicidades, diante do qual a noção de autoria é desestabilizada,
as expectativas frequentemente se invertem e a voz que lê o poema é também lida
por ele, numa espécie de looping da linguagem. Gênios em garrafas pet, Clarice
Lispector, Kaváfis e Julio Iglesias, a mosca Albertina às voltas com a Teoria
da Relatividade, estas são apenas algumas das vozes que nos assaltam neste
livro inclassificável. E se o deslocamento, o nonsense e o humor
paródico permeiam todas as páginas, eles não anulam os afetos nem as angústias,
antes promovem uma ciranda na qual todos os convidados se dão as mãos. Afinal,
como bem observa Filipe Manzoni, não se trata de simplesmente acompanhar a
deriva dos fantasmas, mas de ver as coisas quebradas e, com elas, “inventar
novas formas de brincar”. Este é um livro para o século XXI.
Não é possível precisar em que ano nasceu Saques &
Sacanagens. Talvez 1500, quando portugueses chegam na terra brasilis
e começam a criar uma narrativa para estas terras, antes tão gentis. Uma
bricolagem que bebe em uma ampla fonte literária e documental, dos escritos
coloniais até os dias de hoje, que ora nos confunde, ora nos esclarece, sobre a
formação do brasil em versos contundentes e cheios de ritmo e acidez. Um livro
de poesia com bibliografia e versos interpretados por desenhos de Paulo Ito.
Essa via de mão dupla conecta a barraca colonial ao barraco pós-moderno: de um
lado, atualiza a ruína pretérita; de outro, anacroniza a violência das chagas
atuais. A lama que afoga crianças, ontem e hoje, a miséria feita commodity
made in Brazil. Saqueei essa biblioteca como quem retoma o tesouro da terra
dominada.
O professor, tradutor e poeta Marcelo Tápia fala a Manuel da Costa Pinto sobre o processo de construção do livro “Refusões”, uma coletânea que reúne em um só volume a obra de um dos nomes marcantes da poesia brasileira.
Podcast do Publishnews: o agitador cultural, poeta e autor, Sérgio Vaz, fundador da Cooperifa e do Sarau Cooperifa, fala sobre projetos de formação de leitores que levam a poesia para escolas da periferia.